O barbeiro Luiz Geraldo Lobato Júnior, de Santa Maria, encontrou na profissão uma maneira de melhorar a autoestima de quem já perdeu muito na vida. Há dois anos, uma vez por semana, ele corta o cabelo de pessoas em situação de vulnerabilidade, na rua mesmo, e sem cobrar absolutamente nada.
Antes de começar a percorrer espaços públicos para oferecer essa ajuda, o barbeiro desenvolveu um projeto na Escola Estadual de Ensino Fundamental Paulo Freire, em Santa Maria, onde, durante sete meses, ensinou um pouco da sua profissão a adolescentes.
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– Há três anos, encerrei o projeto na Paulo Freire, mas nunca deixei de ajudar a quem precisa. Isso é algo que aprendi desde criança. Gosto de ver as pessoas com aparência melhor, de cabelos cortados e barbas feitas – diz.
Segundo Júnior, essa iniciativa vai além de melhorar a aparência de alguém. Como todo bom barbeiro, ele não se resume só ao trabalho com a tesoura, oferece, também, ouvidos atentos aos clientes. Assim, a cada corte de cabelo, o profissional tem a oportunidade de ouvir histórias, aconselhar e cuidar, pelo menos um pouco, de quem precisa de atenção.
Todas as sextas-feiras, a partir das 20h, Júnior vai até a Praça Saldanha Marinho pronto para cortar o cabelo dos que não têm condições de pagar por um corte. Como a maioria dos clientes já conhecem o projeto, vão se aproximando e, aos poucos, de 10 a 15 pessoas fazem fila para esperar pelo atendimento.
Muito além do visual

Enquanto Júnior lida com a tesoura, outros voluntários arrecadam alimento, cobertores e entregam, com muito carinho, a quem precisa.O soldador Eden Henrique de Almeida é um dos que também está engajado nesta parceria. O sonho dele é conseguir ajudar as pessoas a recuperar a dignidade e uma rotina sem tanto sofrimento. Durante a semana, ele recolhe cobertores e prepara refeições para distribuir.
– Ajudar pessoas é a melhor oportunidade de compartilhar o cristianismo. Precisamos repartir o bem que recebemos de Deus. É o amor ao próximo que nos movimenta – afirma o soldador, que conta com as redes sociais para recolher donativos.
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Solidariedade na prática
Para o estudante Thiago Silveira, o amor deve ser mostrado na prática. Enquanto Júnior faz cabelo e barba, ele serve cachorro quente, sucos ou cafés, além de levar cobertores e travesseiros para as pessoas que precisam.
– Cada um que está na rua tem uma história para contar. A maioria dos relatos são casos de dependência química. E eles mesmos decidiram passar os dias na rua, vitimados pelas drogas – comenta.
Silveira lembra que algumas pessoas em situação de vulnerabilidade de Santa Maria vieram de outras cidades da região em busca de trabalho ou estudo. Como não alcançaram seus objetivos e não tiveram recursos para voltar, ficaram na cidade, dormindo no albergue.
O segredo é a dedicação
Silveira, Júnior e Almeida integram o grupo "Jovens com uma missão", que é voltado ao amor na prática, uma das principais bases do cristianismo. Os dois últimos já faziam parte do projeto quando o barbeiro conheceu a iniciativa.
– O pessoal do projeto auxilia também alguns necessitados da Vila Santos. Assim que soube do trabalho deles, me agreguei na iniciativa para colaborar com o que eu sei fazer, que é cortar cabelo. Tenho certeza de que, quando estamos com esse pessoal que vive na rua, não é só a aparência deles que fica melhor. Na verdade, carinho, amor e atenção deixam as pessoas bonitas por dentro. E isso é o mais importante – finaliza.